quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Pensmento de um padre a respeito de Crucifixo


Acabo de ver a imagem do


Crucifixo da Igreja Sacre Coeur du


Tugeau, no Haiti, exibida pelo Fantástico,


programa da Rede Globo. O templo


sagrado desabou e restou aquele


Crucifixo, quase intacto, grande, erguido,


exposto aos olhares que banham de


lágrimas as noites haitianas. As pessoas


param em frente a ele, choram e rezam.


Esta imagem provoca o ser


pensante. Por que foi assim? Por que


aquele Crucifixo resistiu ao equivalente a


30 bombas nucleares como a de


Hiroshima? E Cristo ficou ali. Parece ser


aquela Sexta-Feira Santa, em Jerusalém, no alto do Calvário.


Pus-me a pensar e contemplar a chocante cena. Abri as Sagradas Escrituras e pus-me a ouvir


o Senhor. O Filho do Homem permaneceu naquele lugar, representado pela imagem, para dizer aos


sofredores haitianos que eles não estão sozinhos. Jesus Cristo está crucificado com eles e eles com


Cristo. “Suas dores são minhas dores; suas lágrimas são minhas lágrimas; seu sangue é o meu


sangue. Estou na cruz despido, como vocês que agora se encontram despidos de tantos bens.” Como


disse o Profeta Isaías: “a verdade é que ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele


mesmo, nossas dores” (Is 53,4).


Os braços do Filho de Deus permaneceram abertos em Porto Príncipe para acolher o clamor


de homens e mulheres transpassados pela lança da destruição, da fome, da sede, da perda de


esperanças. O lado aberto do Cordeiro de Deus ficou ali, às margens da rua destruída, para dar


descanso e consolo aos que ainda gritam por socorro debaixo dos escombros de uma cidade cujo


concreto tombou sobre vidas cheias de sonhos. “Vinde a mim todos vós que estais cansados e


fatigados sob o peso dos vossos fardos e eu vos darei descanso” (Mt 11,28). O Crucificado resistiu


às forças cósmicas para dar refúgio e abrigo aos que vagueiam pelas ruas sem destino.


O Crucifixo do Haiti foi mais forte que o terremoto para manter viva na mente e coração dos


que por aquela rua passarem a boa notícia: “prova de amor maior não há, que doar a vida pelo


irmão” (Jo 15,13). Ali ficou uma imagem sagrada feita de matéria, porém, ao seu lado, ficaram os


corpos de homens e mulheres, que viveram até o fim o Mandamento Novo. Eles foram imagens


vivas do Bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas. Trata-se da Dra. Zilda Arns e quinze


sacerdotes presentes naquela igreja no momento da tragédia. Eles estavam juntos porque queriam


amar intensamente as crianças daquela nação que esperavam por vida e vida em abundância.


O Crucifixo do Haiti permanece erguido e o Espírito de Deus fala aos corações das pessoas


de bem que salvam aquela sofrida gente. “Pois eu estava com fome e me destes de comer; eu estava


com sede e me destes de beber; eu era estrangeiro e me recebestes em casa; eu estava nu e me


vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; ... Todas as vezes que fizestes isso a um dos


menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25, 35-36.40).


O Crucificado ressuscitou e enviou do Pai o Espírito Santo renovando todas as coisas. Ele


ficou naquela destruída rua para dizer: “Coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33). Em meio ao caos


da maior tragédia enfrentada pela ONU, há esperança, a luz dissipa as trevas em cada pessoa


resgatada com vida, e em cada criança amparada. E o brilho volta a resplandecer nos olhos que


agora choram os mortos. É a força criativa e reconstrutora do Amor estampada no Crucificado do


Haiti.


Padre Francisco Agamenilton Damascena


Vice-reitor do Seminário Diocesano São José


Uruaçu - GO

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